A fisiografia da laguna é o resultado de processos naturais e obras levadas a cabo, tais como as mais recentes de expansão do porto de Aveiro. A Ria encontra-se implantada numa região denominada Orla Mesozóica Ocidental Portuguesa, que constitui uma vasta bacia sedimentar depositada sobre um solo Paleozóico (Borrego et al, 1994). As formações estratigraficamente datadas do Quaternário (Holocénio e Plistocénio) e do Cretácico (Apciano e Maastrichtiano) são representadas, respectivamente, por Depósitos Modernos (aluviões actuais, areias de praia e areias de dunas), Depósitos do Plistocénio (depósitos de praias antigas, terraços fluviais e blocos residuais) e Formações do Cretácico (Borrego et al, 1994). |
A maioria dos canais têm pequenas profundidades que podem variar entre 1m e 4 m nos canais de navegação. As áreas portuárias apresentam profundidades da ordem dos 8 m mantidas por dragagem. A profundidade média da Ria é cerca de 1m (Caeiro, 1996). Num período de 35 anos foi estimado um aprofundamento médio do fundo da Ria de 0,4 m justificado pelas actividades de dragagem (Borrego et al, 1994). Nas zonas mais espraiadas da Ria de Aveiro, onde não houve dragagens, regista-se uma tendência geral para o assoreamento. |
Os processos sedimentares foram, desde sempre e na actualidade, os condicionadores naturais da morfologia local. Estes processos são responsáveis pela formação do cordão de areias que originou uma baía baixa e comprida onde os rios Vouga, Águeda e Cértima desenvolveram um estuário comum (Borrego et al, 1994). As forças de arrastamento geradas pelas correntes de circulação das massas de água provocam a movimentação dos sedimentos arenosos e lodosos, estabelecendo situações de equilíbrio dinâmico que condicionam a morfologia lagunar (Borrego et al, 1994 e Vicente, 1985). Nas situações de equilíbrio dinâmico, o saldo dos transportes para montante e jusante num dado trecho do canal, ou é nulo ou apenas o necessário para promover o transporte dos fluxos provenientes de montante. São frequentes, no entanto, as situações de desequilíbrio em que o saldo dos transportes é excessivo, originando o aprofundamento do canal (Vicente, 1985). Existem extensos bancos intertidais e rasos de maré nas margens, onde se acumulam sedimentos com características coesivas. Aqueles que se acumulam na zona mais profunda são mais arenosos, sendo movimentados pelas correntes de maré. Os aluviões, que formam o leito da laguna e as zonas baixas, são caracterizados pela predominância de areias finas e siltes com uma composição granulométrica aproximada de 20 a 90% de areia, 10 a 80% de silte e 0 a 30% de argila, distribuindo-se entre areia, areia siltosa, silte arenoso e silte argiloso. A distribuição destes materiais é condicionada pela hidráulica lagunar (Rocha et al., sem data). A proporção de silte (sedimentos com diâmetro mediano inferior a 60 m m) aumenta à medida que se avança para o interior do sistema lagunar, acompanhando o enfraquecimento das correntes de maré, a excepção feita ao percurso principal de escoamento das águas do rio Vouga (Borrego et al, 1994). A composição mineral das fracções finas do sedimento são: no canal de Ílhavo dos mais ricos (em termos relativos) em carbonatos, no canal de Mira e nos troços mais meridionais do canal de Ovar dos mais ricos em quartzo e feldspato e nos troços mais setentrionais do canal de Ovar dos mais ricos em filossilicatos (Rocha et al., sem data). Relativamente à composição mineral das fracções argilosas a ilite é o mineral argiloso predominante em todos os sectores da laguna. Os sedimentos são: no canal de Ílhavo dos mais ricos em esmectite, nos troços mais meridionais do canal de Ovar dos mais ricos em caulinite e nos troços mais setentrionais do canal de Ovar dos mais ricos em clorite (Rocha et al., sem data). 3.2.3 SapalNo estuário comum formado pelos rios Vouga, Águeda e Cértima ocorreu a deposição progressiva de sedimentos, originando a elevação da superfície lagunar e a formação de ilhas. As áreas de sapal (Figura 3.1) marginam uma grande parte dos canais, cobrindo muitas das pequenas ilhas da Ria. Na área do sapal alto ocorre uma substituição da vegetação característica, devido à diminuição da salinidade, pelo Junco-das-esteiras (Juncus maritimus). Onde predomina a água doce ocorrem com maior frequência plantas da família Cyperaceae, como Scirpus maritimus, Scirpus pungens e Scirpus lacustris lacustris (Bunho). Com o aumento da proporção de água, surge o caniçal, com predomínio do caniço (Phragmites australis), podendo surgir outras espécies dispersas como o Bunho e as Tábuas (Typha latifolia e Typha angustifolia) (Silva, 1999). |
Figura 3.1– Fotografia aérea dos sapais da Ria de Aveiro (Fonte: Quercus de Aveiro).
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